Estudo com 6 mil jogadores de futebol das séries A a D detecta anomalias em eletrocardiogramas de 3% dos atletas

  • 11/09/2024
(Foto: Reprodução)
Levantamento foi desenvolvido por pesquisador do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Especialistas explicam que nem toda anomalia significa doença, mas que deve servir de alerta. Em agosto, jogador uruguaio morreu em decorrência de uma parada cardiorrespiratória. Pesquisador Filipe Ferrari analisou eletrocardiogramas de 6 mil jogadores de futebol HCPA/Divulgação A morte do jogador uruguaio Juan Izquierdo após uma parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca provocou um questionamento no mundo do futebol: como está a saúde dos atletas? Um estudo inédito desenvolvido pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) aponta respostas. A pesquisa, com mais de 6 mil jogadores em atividade no Brasil, mostra que 3% deles apresentaram eletrocardiogramas anormais. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp A porcentagem representa 180 atletas entre os 6.125 que tiveram os exames analisados pelo pesquisador Filipe Ferrari e seu orientador, Ricardo Stein. São todos homens, com idade entre 15 e 35 anos, de 82 clubes profissionais – todas as equipes da Série A de 2023, além de times das séries B, C e D do Campeonato Brasileiro. As alterações não necessariamente significam doenças graves, mas devem servir de alerta. "Esses 180 têm alguma alteração que não é esperada e podem ter alguma doença cardíaca. Em um jogo com 22 atletas, um ou outro com certeza deve ter, e isso não necessariamente significa a doença", diz Ferrari, educador físico e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da UFRGS. "São alterações que fazem com que nós acendamos o 'sinal amarelo'. A gente tem que investigar para ver se não tem, em alguns casos, 'sinal vermelho'. A gente tem uma suspeita. Não necessariamente a gente tem um doente", explica Stein, professor de Medicina e médico do Serviço de Fisiatria e Reabilitação do HCPA. A tese "Avaliação do Eletrocardiograma do Jogador de Futebol Brasileiro: Um Estudo Observacional Multicêntrico" teve artigo publicado no British Journal of Sports Medicine, a revista mais prestigiada de medicina do esporte do mundo. O HCPA é uma instituição pública e universitária, vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Leia também: Cirurgia rara para prevenir AVC é realizada em Porto Alegre O jogador Juan Izquierdo, do Nacional do Uruguai, cai desacordado no meio do campo do estádio do Morumbis, durante partido contra o São Paulo, pela Copa Libertadores, em 22 de agosto. ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Anomalia mais comum Dos 180 jogadores com alguma alteração no eletrocardiograma, 75 apresentaram inversão da onda T ínfero-lateral, um achado anormal nesse tipo de exame. De acordo com os pesquisadores, alterações nessa onda podem sugerir condições cardíacas raras, as quais podem levar à morte súbita. "A onda T é um daqueles tracinhos que aparece no papel do eletrocardiograma. Se ela está voltada para cima, na imensa maioria da vezes ela está normal. Se ela está voltada para baixo, a depender do local, nos acende um sinal de alerta. Nesse cenário, investigações adicionais com exames de imagem são necessárias", afirma Ferrari. Na sequência, os pesquisadores analisaram ecocardiogramas e ressonâncias magnéticas dos atletas. "Nem todos os atletas que apresentaram eletrocardiograma anormal apresentaram ecocardiograma e ressonância anormais. Ter o eletro alterado não significa ser doente", diz Stein. O dado mais alarmante é que, entre seis jogadores com doenças cardíacas diagnosticadas pela ressonância, quatro apresentaram ecocardiogramas normais, ou seja, as doenças não foram detectadas na segunda análise. De acordo com Filipe Ferrari, essa diferença serve para destacar a importância da ressonância cardíaca como padrão-ouro nessas circunstâncias, a fim de obter resultados mais seguros. Entre as doenças detectadas, estão condições que agravam o espessamento de uma parte do músculo cardíaco e a miocardite, que é uma inflamação do miocárdio. Um dos atletas que participou do estudo foi informado dos riscos e decidiu parar de praticar o esporte profissionalmente. Hospital de Clínicas de Porto Alegre Reprodução/RBS TV O esporte é um risco? Apesar do alerta, os especialistas são unânimes: o esporte e o exercício físico, por si, não matam. "Quando acontece uma situação dramática como a do Juan Izquierdo ou aquela de 20 anos atrás, do Serginho, as pessoas passam a pensar: 'se um atleta profissional tem uma morte súbita no gramado, o que pode acontecer comigo que faço exercícios no dia a dia ou que sou um sedentário que quero começar a fazer exercícios?'. O maior risco é estar sedentário", comenta Stein. "Quando tem um exemplo de morte súbita, como o Izquierdo, causa uma comoção muito grande, porque o jogador é visto como sinônimo de saúde. A morte súbida num atleta é um evento extremamente raro. O exercício não mata. O que mata são doenças cardiovasculares existentes, detectadas ou não, cujo exercício pode ser um gatilho. O sedentarismo é muito mais perigoso", alerta Ferrari. Para evitar que esse gatilho seja acionado, é recomendado monitorar a saúde dos atletas, eventuais sintomas, histórico familiar e outros fatores. Fantástico conversa com a mãe do jogador Izquierdo, que morreu depois de sofrer uma parada cardíaca em um jogo da Libertadores. Detalhes da pesquisa Uma pesquisa com essas dimensões é inédita no Brasil. Segundo o professor orientador, Ricardo Stein, dados de pesquisas europeias norteavam as pesquisas até então. Enquanto na Europa os jogadores analisados eram brancos e afro-caribenhos, o estudo brasileiro analisa brancos, pardos e pretos. "Por ser o primeiro estudo de grande magnitude nacional, a gente talvez não precise mais se armar de dados de outros países. A gente pode até comparar, mas agora nós temos dados nacionais robustos", diz Stein. Ao todo, foram analisados 2.496 exames de homens brancos, 2.004 de pardos e 1.625 de pretos. Os pretos tiveram maior prevalência de inversão da onda T, uma alteração mais frequente também em jogadores negros em Gana, Reino Unido e França. "As alterações, tanto as que são consideradas benignas quanto as malignas, costumam ser mais comuns nos negros. Os negros afro-caribenhos estudados na Inglaterra têm mais alterações anormais no eletrocardiograma que os brancos", comenta o orientador. O mesmo estudo também está sendo feito com as profissionais do futebol brasileiro. Já foram coletados mais de 600 exames de jogadoras mulheres de 17 clubes do Brasil. O estudo é liderado por pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Cardiologia do Exercício (CardioEx) do HCPA. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/09/11/estudo-eletrocardiograma-jogadores-futebol.ghtml


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